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Carta ao Rei Leão I e à Realeza Sindical


Ao vigésimo quinto dia da prisão do preso político e maior membro da corte sindicalista que nosso reino já teve, o nobre emissário do povo, Luiz Inácio Lula da Silva, venho informar e relatar que não farei mais parte das fileiras dos súditos que arriscarão a vida por Vossa Majestade, tampouco por seus Ministros Sindicais e outros membros da Realeza Sindical. No entanto, continuarei a seguir os ideais sindicalistas. Majestade, conheço vossa bondade, vossa coragem e as muitas lutas que travou em nome de seus súditos. Não posso negar a nobreza de vosso coração e peço apenas que entendais e reflitais sobre os relatos a seguir. Majestade, os motivos de minha partida são diversos, mas nenhum deles apagou minha crença na luta sindical e na união dos trabalhadores. Ao contrário, fortaleceram minhas convicções e meu amor pelos súditos diante da miséria, da fome e da injustiça que assolam nossa gente. Preciso informar a Vossa Majestade que vosso reino está dividido por alguns grupos políticos que se digladiam nos bastidores pelo poder e para o poder. Informamos também que, pelas características do conflito interno, os ideais não fazem mais parte do processo de luta e de suas aspirações. Prevalece apenas a vaidade, o poder pelo poder. Nesta luta interna, nossa gente foi esquecida, assim como nossos ideais. Muitos dos súditos perceberam que estão sendo usados para manter a realeza sindical forte e sem oposição nestes tempos difíceis. Acreditamos, Majestade, que este conflito é muito perigoso nestas circunstâncias, e podemos afirmar que jamais venceremos nosso inimigo comum. Estamos nos prejudicando e nos enfraquecendo ao longo dos anos. Majestade Sindical, esta luta interna é tão violenta que não tenho esperança de vitória contra nosso inimigo comum. Os nobres sindicalistas já esqueceram de nossa gente, de nossas causas e de nosso ideal por uma sociedade justa, igualitária e soberana. Percebemos que ao longo das batalhas e dos anos, estamos levando nossa gente por um caminho que eles não querem trilhar, que é o caminho do partidarismo e das ideologias que eles desconhecem ou têm medo. Precisamos, Majestade, ter clareza de que eles são apenas súditos, trabalhadores dotados de simplicidade e ausência de leitura política complexa. Para seguir rumo à vitória, Majestade, é necessário mudar alguns hábitos. Temos lutado sem estratégias definidas, sem consultar o povo, sem contar com os aliados e tampouco com o apoio dos melhores guerreiros. Uma das queixas comuns entre o povo é que eles têm a sensação de que são tratados como massa de manobra, e em meio à dificuldade, são deixados à própria sorte. É muito triste ver nosso povo sem esperança diante do futuro incerto e com tantas mazelas e indiferenças em nosso meio. Vossa alteza não percebeu que, a cada dia que passa, nosso povo está se escondendo para não lutar? Por que tamanha indiferença, Majestade? A resposta é simples, objetiva e direta! O povo percebeu as mazelas de vossa administração, percebeu que muitos ministros sindicais estão vivendo no luxo, estão ostentando diante da miséria de nossa gente. Eles não são transparentes com os recursos comuns, são dissimulados, mentem descaradamente, são avarentos, subestimam nossa inteligência, são amadores no trato com as coisas coletivas e muitas vezes usam de nossa boa vontade para fins partidários. Não há respeito para com os mais simples; os anciãos sindicais foram esquecidos; os mais jovens estão sendo arregimentados, não pelo ideal da causa, mas pelo poder e pelo poder. Por tais motivos, Majestade, vossos discursos não ressoam nas fileiras de nosso povo, não encantam e não os motivam mais. Muitos preferem lutar sozinhos, sabendo da morte certa diante do inimigo comum, do que ter esperança em alguém em quem não se pode confiar. Majestade, lamentamos informar, mas esta é a triste situação do vosso povo. Sabemos que muitos dos nossos estão passando por dificuldades. Alguns não têm o que comer, muitos estão atolados em dívidas e outros têm graves problemas de saúde na família. Em meio a tudo isso, o que vossos ministros sindicais têm feito? A resposta também é simples, Majestade! Nada! Eles são indiferentes, são incapazes de ver o sofrimento da nossa gente, pois perderam a sensibilidade para com o próximo e para com o ideal que nos une. O máximo que fazem é encaminhar para o departamento jurídico e esperar pela própria sorte ou por uma graça divina. Nosso povo está lutando contra muitos inimigos. Dois se destacam de forma visível e assolam nossa gente. O primeiro é o governo, o inimigo comum de todos. O segundo é a Nobreza Sindical, que é um péssimo exemplo para vosso reino, que nos enfraquece e nos corrói por dentro. Majestade, assim não há possibilidade de ganhar esta guerra. Não é possível sem nosso povo, sem um povo feliz, sem um povo unido, sem transparência, simplicidade e nossos ideais. O povo está cansado, os súditos não têm mais esperança, foram tomados pelo medo, pelas incertezas e pela desconfiança na vossa administração e em seus Ministros Sindicais. Acreditamos que os Ministros Sindicais são os verdadeiros detentores da verdade, celebridades desprovidas de simplicidade, insensíveis diante do sofrimento alheio. Não escutam ninguém e, aos poucos, estão desestabilizando nossa luta. Os súditos já não acreditam nas palavras de motivação, não têm mais o brilho nos olhos, não têm mais esperança em dias melhores. Sabem que temos dias sombrios, tristes à nossa frente, mas mesmo assim preferem enfrentar as adversidades sozinhos do que acompanhados de vossos Ministros Sindicais. Percebemos que os simples sindicalistas não se rendem às ilusões diante de uma nobreza sindical que perdeu o respeito por nossa gente e pelo desejo de liberdade de todos. Muitos dos nobres que faziam parte do vosso reino já não estão mais entre vossas fileiras. Não foram assassinados, mas sofreram algo pior: estão relegados ao ostracismo por discordar dos absurdos e disparates de vossa administração, por discordar de seus Ministros Sindicais, que retêm a maioria das queixas que não chegam a Vossa Majestade. Sem demora e para concluir, não posso ser injusto. Há muita gente boa em vosso reino, mas que não tem voz, são silenciados e estão desanimados. No entanto, não perderam a esperança, ao contrário de mim e de muitos. Majestade Sindical Leão I, perdoai minha insolência, minha franqueza e meus desatinos. É o que sinto, é o que vejo, é o que me dizem e é o que acontece. A melhor maneira de convencer alguém que está errado, Majestade, é deixá-lo seguir seu caminho. Eu seguirei o meu, e Vossa Majestade e a Nobreza Sindical, o vosso. Quem seguirá o melhor caminho? Fica a dúvida. Vida longa à liberdade e ao movimento sindical. Boa jornada, Majestade Leão I. Apucarana, 02 de maio de 2018, ao vigésimo quinto dia da prisão do preso político e maior membro da corte sindicalista que nosso reino já teve, o Nobre e Emissário do povo, Luiz Inácio Lula da Silva. O simples servo do Reino Sindical,

Daniel Mota. ____________________________________________________________________________________________________

Prof. Daniel Mota possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), lato sensu pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) em Ética, lato sensu pela UNESPAR/PR em Gestão de Empresas com Ênfase em Recursos Humanos. Professor, com ampla experiência na área da educação e com uma longa caminhada pela luta sindical. Currículo Lattes.

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