O ÓDIO PENETROU O TEMPO
O ódio atravessou fronteiras, derrubou árvores centenárias, ofendeu os espíritos dos antigos, rompeu a conexão com a natureza e ergueu edifícios com vista pro nada.
O ódio, em chamas; atravessou o peito dos mais bravos guerreiros Tupinambás e todos aqueles, que aqui lutaram bravamente antes das caravelas portuguesas atracarem em tempos remotos, os guerreiros e guerreiras ainda caminham através do grande espírito das florestas remanescentes e ainda vivem em seus descendentes e ainda vivem nas batalhas travadas por cada um dos povos que lutam diariamente pela sobrevivência de seus anciões, de suas crianças, crenças e culturas, línguas e territórios.
Tamandaré1 vive! Vive nos rios, mares, açudes, em biomas importantíssimos como a caatinga, o cerrado ainda vive em sementes, folhas, raízes e ainda caminha repovoando a Terra.
Os colonizadores; que um pouco antes de mil e quinhentos, em mil quatrocentos e noventa e dois, por exemplo; já haviam começado a catequizar os povos originários e esse invasivo e infeliz processo, reflete até os dias atuais, a diferença é quase nenhuma.
As caravelas agora são; como Hidrelétricas, que alimentam máquinas, máquinas modernas que fomentam a destruição.
O objetivo aqui, não é criticar negativamente a tecnologia e sim mostrar que:
Se a tecnologia2 continuar sendo predatória e usada em prol de uma (elite social); desigualmente estabelecida e às custas de trabalho escravo e exploração infantil, historicamente continuaremos na estaca zero, desse suposto "progresso", que de maneira infeliz se faz presente, apenas na bandeira de nosso país.
1- Tamandaré ou (Tamendonaré); era o "Noé" dos tupinambás, filho de Sumé e irmão de Aricute. Tamandaré vivia com Aricute numa aldeia.
Ao regressar de uma "expedição" guerreira. Aricute insultou Tamandaré, atirando contra sua (uka)/pequena casa; o braço de um inimigo que havia decepado. A aldeia desapareceu e Tamandaré, batendo com o pé no chão, fez surgir uma fonte d´água que inundou a Terra, cobrindo as serras e as árvores. Tamandaré subiu, então, numa palmeira bem alta, com a família e Aricute subiu num jenipapeiro, também, com a mulher e filhos.
Escapando do que podemos chamar de (dilúvio), os irmãos se separaram e repovoaram a Terra. De Tamandaré vêm os Tupinambás e de Aricute, os Tomimis. Tamandaré significa; aquele que repovoou a Terra.
(Obra utilizada como referência: Brasil Das Águas/Arte, cultura e conhecimento-editora: Outras Palavras/textos: Fernando Salgado/Fotos: Fausto Roim/Lei de incentivo à cultura-repasse da Bivlioteca Pública do Paraná.
2- (Tecnologia): Quando se pensa em tecnologia; logo considera-se um certo avanço econômico; porém deve-se também considerar que para isso é necessário investimento e investimento pesado. Mas como investir "pesado" em tecnologia num país como o Brasil, onde temos tantas desigualdades sociais, tantas pessoas desempregadas e sem qualquer tipo de qualificação, referente ao suposto progresso científico?
Aliás; um país onde o atual (Governo de Estado); ao invés de investir em educação e ciência, optou irresponsavelmente por não investir e como se fosse pouco, ainda impede que novos investimentos sejam realizados em relação à essas áreas, principalmente na área de pesquisa e inclusive tecnológica.
Isso também reflete negativamente no próprio desenvolvimento de nosso país, nesse sentido, aumentando ainda mais a taxa de desemprego, diminuindo o nível escolar e criando muitos trabalhos informais, algo que no ponto de vista trabalhista, inspira muita preocupação, principalmente pelas condições precárias e irregulares em que acabam se submetendo os trabalhadores informais ou terceirizados.
A lei da (terceirização) no Brasil é preocupante; porque a jornada excessiva de trabalho tem aumentado significativamente o nível de estresse nas pessoas e consequentemente tem adoecido mais essas pessoas e num país com tantos problemas sociais dentre outros não menos importantes, decorrentes de péssimas gestões políticas, situações resultantes desse lamentável processo, aumentam ainda mais o nível do desastre. Principalmente num período tão difícil como o que temos enfrentado durante a pandemia do novo corona vírus (covid-19).
- Se a situação; já era extremamente preocupante, agora imaginem vocês:
Em plena crise sanitária, com risco eminente de contaminação por um vírus completamente desconhecido, desempregado, sem formação, sem referência profissional, num país, que embora seja multicultural e multirracial, ainda temos presenciado tantos casos de intolerância religiosa e de racismo escancarado e absurdamente comum ou velado, certamente pela naturalização cometida pela sociedade brasileira; pois quando se naturaliza alguma atitude na sociedade, por mais que seja totalmente errada e completamente cruel, as pessoas infelizmente assimilam e reproduzem, como se não houvesse culpa e se não há culpa, logo não existe culpado(a) ou culpados(as), certo?
ERRADO!
Porquê; isso torna atitudes desumanas como essa; em costumes "normais", corriqueiros e habituais, algo muito difícil de desfazer, uma vez que é assimilado pelas crianças; pois isso torna-se cultural e fica registrado pra vida toda na memória delas e consequentemente são reproduzidas durante suas vidas em sociedade e passadas de geração em geração.
Inconsciente coletivo?
Parece ficção científica, não é?
Adoraria estar redigindo um texto tão criativo, porém não estou.
E sim! Esses são relatos reais e muito reais, infelizmente não escrevo fábulas, poemas afáveis ou realidades fictícias.
De maneira alguma, tenho a intensão e tampouco o objetivo de diminuir ou menosprezar tais gêneros textuais e sim esclarecer minhas impressões em relação ao mundo e principalmente a realidade, que tenho presenciado em nosso país.
- Tenha ideias, acredite nelas, alimente elas com conhecimento e informação de qualidade e use-as com sabedoria!
Muito provavelmente, alguém já tenha alertado sobre isso, com frases interessantes e muito inteligentes; como a frase de um dos pensadores que mais me identifiquei durante minha trajetória na cultura Hip-Hop; como a eterna frase: (Pense, ainda não proibiram!) do tio (George Clinton) do grupo Funkadelic.
À propósito; devemos considerar que por aqui, ainda é possível encontrar terreno fértil para semear ideias, ótimas ideias e idealistas não são meros visionários, (esses); na minha humilde opinião, são grandes revolucionários(as) e são capazes de mudar o mundo; pois acreditam tanto em seus ideais, que tornam tudo possível e isso acaba influenciando todo um planeta.
Dentre tantos exemplos que podemos citar na humanidade, está um exemplo bem vivo e atual; como o pensamento genial de Afrika Bambaata, o nosso tio Bam´, o pai da cultura Hip-Hop, uma cultura mundialmente conhecida por revolucionar a vida de milhares de jovens nas periferias de todo o mundo.
- Na entrevista concedida à (king Nino Brown), Ubzulukings/(Zulu Nation Brasil); sede da (Organização Zulu Nation), na cidade de Diadema no Estado de São Paulo, em uma de suas breves visitas durante a turnê relâmpago no Brasil, quando questionado; se ele, se vê como um visionário; Bambaata diz:
- Me vejo como um idealista; um cara que cogita outras possibilidades, sempre melhores. Pode soar romântico; mas eu sempre me vi assim:
Uma pessoa que fala de um mundo melhor. Assim, fiz com que várias pessoas pensassem como eu penso e a união de energia positiva realmente muda o mundo. Fiz as pessoas pensarem.
- Como diz o tio George (Clinton do Funkadelic):
Pense, ainda não proibiram!
Considerando essa preciosa referência, citada no texto acima;
O que pensar à respeito de um "novo" conceito de mundo, proposto pela ciência da tecnologia no Estado da Califórnia ao sul de São Francisco/Estados Unidos/Vale do Silício; um lugar conhecido por concentrar o maior grupo de marcas de aplicativos, principais empresas de comunicação e cientistas na área de tecnologia da informação, as famosas e poderosas startups.
- (Ideias, não valem nada, o que vale é a execução; independente de seu sucesso ou fracasso), onde o foco total é baseado no status e investimento.
Mas que tipo de investimento, seria esse?
Um conceito de mundo como esse, tornaria nossa vida mais fácil? Tornaria a vida de quem, mais fácil?
Salvaria os recursos naturais de constantes ataques; como os que ocorrem diariamente em todo Brasil, por exemplo?
Resolveria uma questão tão antiga, quanto a miséria no mundo ou aumentaria ainda mais, esse problema?
O fato é que não seria muito coerente e ético da minha parte, enquanto um usuário de plataformas digitais, sites de relacionamento e app's de celulares smartphones; criticar de maneira negativa e radical a tecnologia da informação, muito pelo contrário, tenho profundo interesse nesse tipo de tecnologia; porém o próprio termo (informação), me torna apto à questionar, sim; o rumo de tudo isso em relação ao (IDH); índice de Desenvolvimento Humano, principalmente em um país como o que vivo e convivo diariamente; inclusive com os efeitos de sua negligência para com o seu povo ou melhor dizendo; seus povos, sim, seus povos. Pois trata-se de um país multicultural e portanto multiétnico.
Outro fato que me chamou a atenção durante a pesquisa necessária para produzir esse tipo de material, além do (princípio de uma ideia compartilhada e como se aplica essa ideia); foi o fato de que as fábricas de smartphones na (China), têm como prática, a exploração de seus funcionários, que trabalham cerca de 12 horas diárias, sendo que têm "direito", à apenas 2 horas e meia de pausa, incluindo trabalhar aos sábados e detalhe; não é opcional fazer horas extras ou seja; a excessiva jornada de trabalho é obrigatória, para não dizer forçada e no mínimo abusiva; se o salário dos funcionários fosse compatível com a força de trabalho, talvez num ponto de vista minimamente trabalhista fosse "razoável"; mas acontece, que a realidade é bem diferente, na China praticamente não tem legislação trabalhista, o que torna a situação ainda mais grave e propícia para uma mão de obra barata devido à falta de fiscalização. Os trabalhadores moram em alojamentos precários dentro das empresas e a taxa de suicídio é assustadoramente crescente.
O ódio penetrou o tempo e atravessou fronteiras ; mas não pode permanecer em nossos corações, no meu caso, o coração pertence à arte e a arte é uma semente originária que precisa de amor para germinar, a arte precisa se desenvolver sob a luz da criatividade de seus artistas e não sob as sombras de suas frustrações...
Por: Rafael Ferreira Vieira
-Fragmento de uma das primeiras passagens da obra em que estou trabalhando e que decidi partilhar com vocês; devido a relevância do conteúdo, neste momento em que nos aproximamos das (eleições), que decidirá o meu, o seu e o nosso destino, enquanto cidadãos brasileiros não-indígenas e que principalmente, será decisivo para a sobrevivência dos povos originários e suas culturas.
Os povos originários do Brasil seguem lutando, não só por sua sobrevivência; mas pela existência de tudo que vive nesse planeta.
Lembre-se disso, quando forem votar!
Fotografia: Alex Rocha 20/03/2021
Texto: Rafa Na Raça
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